Em audiência pública no Senado, Roberto Campos Neto também afirmou que, quanto mais o Brasil avançar nas reformas, menor será a necessidade de vender reservas internacionais.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (27), durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que o real não tem apresentado “comportamento atípico” em relação às moedas de outras economias emergentes.
Campos Neto observou que o real subiu no ano passado, durante as eleições, depois recuou no começo deste ano, e voltou a avançar nas últimas semanas por conta de “tensão comercial” e “fatores geopolíticos” – se referindo à disputa comercial entre Estados Unidos e China.
“O sistema que operamos é de meta de inflação, com câmbio flutuante e ancora fiscal [metas para as contas públicas]. Olhando recentemente o movimento das moedas, a moeda brasileira não tem tido movimento atípico em relação às demais moedas emergentes”, declarou.
“Nos últimos dias, houve uma desvalorização [do real] um pouquinho acima, mas dentro do padrão normal”, concluiu o presidente do Banco Central.
Nesta terça-feira, o dólar voltou a subir, com agentes do mercado ainda de olho nas movimentações envolvendo a guerra comercial entre Estados Unidos e China, em função de seus impactos sobre a economia global. Às 12h10, a moeda norte-americana tinha alta de 0,61%, e era vendida a R$ 4,1622.
Venda de reservas internacionais
Questionado sobre a venda de reservas internacionais brasileiras, o presidente do Banco Central afirmou que, quanto mais o Brasil avançar nas reformas econômicas, menor será a necessidade dessa prática.
Neste mês, a instituição voltou a vender dólares no mercado à vista, sem compromisso de recompra. Os recursos, portanto, estão saindo das reservas internacionais e não retornarão.
As reservas, atualmente acima de US$ 370 bilhões, são consideradas por economistas como um seguro contra crises cambiais – que têm afetado outros países vizinhos, como a Argentina.
Neste mês, já foram vendidos US$ 2,4 bilhões e outros US$ 1,1 bilhão podem ser colocados no mercado até o fim desse mês. Para setembro, a programação prevê a venda, de acordo com a disposição do mercado financeiro em absorver os recursos, de mais US$ 11,6 bilhões. Esses recursos são utilizados para abater a dívida pública.
“É um seguro e tem valor de seguro. Dependendo de quanto avançarmos nas reformas, precisamos ter mais ou menos. O custo [de ‘carregamento’ das reservas] está no mínimo histórico. Os juros estão baixos no Brasil, e nos Estados Unidos também. A diferença entre eles [que é o custo de manutenção das reservas] é baixa. As reservas têm sido um grande negócio. No acumulado dos últimos 10 anos, o ganho deve estar entre R$ 90 bilhões e R$ 100 bilhões. Foi um seguro que pagou e deu certo”, declarou Campos Neto.
Depósitos compulsórios
O presidente do Banco Central também falou que está trabalhando em um novo sistema de assistência à liquidez dos bancos que, segundo ele, permitirá, no futuro, a redução do patamar dos chamados depósitos compulsórios (recursos que os bancos têm de manter no BC para facilitar o controle da inflação).
Ele explicou que a instituição está mapeando o sistema financeiro e suas operações de crédito.
“Se o banco tiver um problema, posso ligar para ele, dar um dinheiro e pegar a carteira de crédito como garantia. Algo mais desenvolvido [do que o compulsório], como é na Inglaterra”, afirmou.
Segundo ele, o desenvolvimento desse plano de assistência à liquidez dos bancos ainda vai levar um ano e meio para ficar pronto.
“Enquanto isso, estamos baixando o compulsório gradualmente. Mais do que liberar o compulsório, tenho que ter uma condução econômica para que os bancos emprestem” disse o presidente do BC, observando que as instituições têm “dinheiro empoçado” (que não está sendo emprestado).
Campos Neto concluiu dizendo que uma “reforma estrutural” desse sistema de liquidez vai permitir ao à instituição trabalhar com compulsório “mais baixo e estimular o crédito privado”.
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