Análise feita por médico da USP avalia também mortes não atribuídas diretamente à Covid-19, mas que podem aumentar por reflexo da pandemia.
O total de mortes na cidade de São Paulo está 40% maior durante a pandemia do novo coronavírus se comparado ao mesmo período do ano em 2019 e 2018. É o que mostra análise feita nesta quinta-feira (2) pelo epidemiologista e professor da Universidade de São Paulo, Paulo Lotufo.
De acordo com o professor, a análise do número total de mortes – e não apenas daquelas atribuídas diretamente à Covid-19 – é importante para medir o chamado “excesso de mortes”, que pode revelar impactos ainda maiores de uma pandemia.
A cidade de São Paulo contabilizou 20.852 mortes naturais (sem causas externas) entre março e junho deste ano. Já a média de mortes naturais entre os anos de 2019 e 2018 no mesmo período foi de 14.915. Ou seja, são 5.938 mortes a mais durante a pandemia do novo coronavírus.
Do total de “excesso de mortes”, 76% foram oficialmente atribuídas à Covid-19 e os outros 24% seriam por outras causas. Os dados foram retirados do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade (PRO-AIM), da Secretaria Municipal da Saúde.
“Quando temos uma pandemia, temos uma parte da mortalidade que é devido à própria infecção, mas nós temos outra parte que é devido tanto à alteração de pessoas com doenças crônicas, neste caso as doenças cardíacas, como aquelas que não conseguem ter o atendimento porque o sistema está congestionado. Em praticamente todos os lugares do mundo houve excesso de mortes em relação aos anos anteriores”, afirmou Lotufo durante coletiva de imprensa realizada no Palácio dos Bandeirantes.
Segundo a apresentação do médico, a mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares apresentam um padrão sazonal, aumentando em determinados meses do ano. O contrário não é verificado em outras doenças como o câncer, por exemplo, que mantém estabilidade.
A avaliação de Lotufo é de que a cidade de São Paulo apresenta cenário menos preocupante em relação ao excesso de mortes em comparação a outras grandes cidades do país e do mundo. (veja o gráfico abaixo)
“É muito importante fazermos uma comparação com Manaus, que teve um pico muito intenso. Houve um aumento rápido, uma magnitude elevada e uma proporção baixa de casos pela Covid-19. Quando nós olhamos são Paulo, o aumento foi constante, teve uma magnitude mais baixa e uma proporção alta de casos pela Covid. Isso mostra na cidade de são Paulo um padrão. Estamos menos piores do que vários lugares do mundo”, diz (veja o gráfico abaixo).
Ainda de acordo com epidemiologista, a análise do excesso de mortes permite avaliar o quanto a testagem da população é efetiva e qual deve ser o foco específico para o atendimento pré-hospitalar e hospitalar para atendimento dessas outras causas de mortalidade que são afetadas pela pandemia de forma indireta.
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