O documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão de Caetano Veloso em 1968, durante a ditadura militar, foi selecionado para o 77º Festival de Veneza, para a seção oficial Out of Competition. Escrito e dirigido por Renato Terra, de “Uma Noite em 67”, e Ricardo Calil, de “Cine Marrocos”, o filme é uma realização da Uns Produções, produzido por Paula Lavigne e coproduzido pela VideoFilmes, de Walter Salles e João Moreira Salles. O Festival de Veneza, o primeiro a ser realizado depois da pandemia do novo coronavírus, mas com uma programação reduzida, será entre os dias 2 e 12 de setembro.
Em “Narciso em Férias” (Narcissus off Duty), o músico e compositor Caetano Veloso relembra sua prisão, quando ele e Gilberto Gil foram retirados de suas casas em São Paulo por agentes à paisana no dia 27 de dezembro de 1968, 14 dias depois de decretado o AI-5.
Sem receber explicações do regime de exceção, foram levados ao Rio de Janeiro, deixados em duas solitárias por uma semana e depois transferidos para celas. A censura prévia impediu os jornais de divulgarem suas prisões. Depois de 50 anos, ele relata o período mais duro de sua vida e reflete sobre os 54 dias que passou encarcerado.
O título do documentário aparece também no livro “Verdade Tropical”, no capítulo em que ele narra esse episódio e conta dos quase dois meses em que ficou sem se olhar no espelho, e foi emprestado do romance “Este Lado do Paraíso”, de F. Scott Fitzgerald.
Ao falar sobre sua experiência na prisão, Caetano diz: “eu me lembro muito de uma frase que o Rogério Duarte me disse logo que eu fui solto: ‘Quando a gente é preso, é preso para sempre’. Acho que é assim mesmo”. Ele conta ainda que passou dias comendo no chão e que passou a pensar que a vida era só aquilo, que o que teve antes nunca mais voltaria.
*Com Estadão Conteúdo