Rogério Ferreira Jr. pegou a motocicleta emprestada de um amigo e pilotava sem capacete no Sacomã, no domingo (9). Imagens mostram policiais militares de moto perseguindo o rapaz. A família dele fala que o rapaz foi baleado sem estar armado. Polícia Civil e Corregedoria da PM apuram o caso.
Familiares e amigos do jovem Rogério Ferreira da Silva Júnior, de 19 anos, fizeram nesta segunda-feira (10) um protesto na Zona Sul de São Paulo contra a morte do rapaz, que foi baleado na tarde de domingo (9), após ter sido perseguido e abordado por dois policiais militares de motocicleta.
Os familiares de Rogério acusam os agentes da Polícia Militar (PM) de atirarem contra o rapaz, mesmo ele estando desarmado: “Exatamente no Dia dos Pais, no dia do aniversário dele, eles mataram o meu filho. tudo que eu quero hoje é Justiça”, disse Roseane da Silva Ribeiro, mãe do rapaz.
“Era aniversário dele, ele estava muito feliz. Eu comprei bolinho para ele. A gente não conseguiu cantar os parabéns porque veio um e tirou a vida do meu filho. Eu quero Justiça porque isso foi uma maldade, uma injustiça muito grande que fizeram com meu filho”, afirmou a mãe.
Na despedida do rapaz, durante o sepultamento, parentes e amigos fizeram questão de mostrar que não se conformam com o que aconteceu e já gritavam em conjunto pedindo Justiça para o caso.
“Um policial mal preparado. Para mim é um policial que não devia estar na rua. Entendeu? Ele [é] totalmente despreparado. O moleque não esboçou nada contra ele. Não tinha porque ele falar que ele se sentiu ameaçado. Não tinha porquê. Não tinha porquê. Até porque o policial está com a arma e ele está com o colete. O moleque estava sem capacete, não tem um colete à prova de balas e muito menos uma arma. Entendeu? Então acho que, assim, não era para ele ter feito isso, esse policial”, completou um amigo de Rogério.
Eles também lembraram que o rapaz tinha acabado de conseguir um emprego com carteira assinada, como operador de empilhadeira.
“Moleque trabalhador, acabou de pegar o registrinho dele na firma, batendo o ponto dele certinho. Só de domingo que nós tem pra ficar na rua de casa. A gente tava lá de boa, aí ele pegou e foi sair com a moto. Falei pra ele ‘põe o capacete’. Negócio de poucos minutos. Na hora que ele desceu os Rocam já desceu atrás dele”, disse outro dos amigos.
O crime
Rogério foi baleado na tarde deste domingo (9), quando andava de moto pelo bairro do Sacomã, na Zona Sul da capital. Era aniversário dele de 19 anos.
No boletim de ocorrência, o policial militar Guilherme Tadeu Figueiredo Giacomelli afirmou que estava perseguindo a motocicleta conduzida por Rogério Ferreira da Silva Junior, e que o rapaz teria feito um movimento simulando que iria sacar uma arma de fogo. E foi aí que o policial efetuou um disparo na direção da vitima, acertando a região das costas de Rogério.
As câmeras de segurança na avenida dos Pedrosos registraram o momento em que Rogério desacelerou a moto, cercado por dois policiais militares, também de moto. Assim que parou, o jovem já caiu na calçada.
O amigo que emprestou a moto para Rogério disse que encontrou o jovem caído minutos depois que ele tinha saído para dar uma volta, e que os policiais teriam dificultado o socorro do rapaz.
“Eles não falaram que foi tiro, não falaram nada. Só falaram assim ‘tá tudo bem, a gente já chamou o resgate’. Aí a vizinha que estava lá já começou a filmar e falou ‘eles atiraram, eles atiraram’”, lembra o dono da moto.
O Secretário Estadual da Segurança Pública (SSP) falou que a investigação será feita com serenidade e defendeu os policiais envolvidos.
“Ele está em investigação tanto no DHPP quanto da Polícia Militar. Também é trágico. Também temos que considerar a tensão policial numa perseguição de uma motocicleta que tudo indicava que estaria como fruto de um roubo. O episódio teve o desfecho que teve, nós sempre lamentamos muito, mas estamos assim, atenção às investigações do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa da Polícia Civil, o inquérito da polícia militar e da própria corregedoria. Todos os aspectos serão analisados, há testemunhas, há gravações de vídeo e tudo isso ocorre com todo o rigor, mas com toda a serenidade que nós esperamos para elucidar esse momento”, afirmou o general João Camilo Pires de Campos.
“Os dois policiais envolvidos são excelentes policiais, cumpridores de todas as normas, de todas as regras, e que nós esperamos que eles possam ter as justificativas que podem ser plausíveis”, completou o secretário.
Os policiais envolvidos na ocorrência estão sendo ouvidos pelo Plantão de Polícia Judiciária Militar e foram afastados do policiamento operacional, segundo a SSP.
Policiais do DHPP estão ouvindo também testemunhas e familiares do rapaz. A Corregedoria da PM foi igualmente acionada e acompanha as investigações.
Investigação
Inicialmente, a Polícia Civil e a Corregedoria da PM concordaram com a versão dos policiais e entenderam que se trata de “legítima defesa putativa”, que é aquela na qual o indivíduo imagina estar em legítima defesa, reagindo contra uma agressão inexistente. Mas isso não impede que essa posição mude no futuro durante as investigações.
A Polícia Civil e a Corregedoria ainda vão analisar o vídeo gravado por câmera de segurança mostra o momento que Rogério pilotando sozinho a moto que tinha pego emprestada de um amigo (veja abaixo). Às 17h51, o rapaz aparece sem capacete, trafegando pela Avenida dos Pedrosos, no Sacomã.
Em seguida é possível ver nas imagens o momento que dois policiais da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) cercam Rogério, que reduz a velocidade da moto até parar perto da calçada.
Na sequência, a moto tomba com o rapaz. Segundo o boletim de ocorrência do caso, Rogério teria sido baleado momentos antes de cair, ainda no momento que era perseguido. Outros vídeos, gravados logo em seguida por testemunhas com seus celulares, mostram Rogério agonizando sem socorro médico. As imagens circulam nas redes sociais.
Os PMs fazem um cordão de isolamento para impedir a aproximação da população, que demonstram revolva e acusa os agentes de execução.
“Aqui é o menino, gente”, grita desesperada uma mulher que filma Rogério.