Para o professor de Relações Internacionais Manuel Furriela o Líbano precisa passar por uma reforma política, que construa um “sistema baseado no voto popular e na escolha de líderes com base em atribuições técnicas”. Em entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan, nesta segunda-feira, 10, Furriela afirmou que a explosão ocorrida na última semana, que deixou pelo menos 160 mortos e mais de 6 mil feridos, expôs a incapacidade do governo de gerir o país. “Eu já vinha sinalizando que o governo atual era inviável. Vejo como um momento de ruptura da situação atual”, disse. Hoje, o primeiro-ministro, Hassan Diab, pediu a renúncia do cargo que ocupava desde 2019 e, em seu discurso, justificou que “os mecanismos de corrupção são maiores do que o Estado”.
Depois que o Líbano firmou um acordo de paz nos anos 1990, os poderes governamentais foram divididos em três cargos: o primeiro-ministro, o presidente da República e o presidente do Parlamento, um de cada grupo religioso que estava na disputa pelo poder durante a guerra civil. “Na pacificação, isso foi uma escolha importante, mas agora se tornou um estorvo, porque todas as vezes que precisa escolher alguém, tem que passar por isso e acaba engessando. Não serve mais como modelo, sem a escolha das lideranças políticas pela eficiência, a gente fica nesse impasse”, explicou Furriela.
Segundo o professor de RI, a reconstrução do país, estimada em bilhões de dólares, precisará ser financiada pela sociedade internacional. Ela afirmou que o Líbano recebe, a partir dos anos 70, um fluxo muito grande de imigrantes palestinos e sírios. A principal solução para lidar com esse problema seria desmontar os conflitos internacionais, na opinião do especialista. “Precisamos desarmar esses conflitos mundo afora. Se não houver uma robusta ajuda internacional, as pessoas vão começar a buscar outros destinos e a Europa está muito próxima. Teremos um refúgio humanitário em massa se a situação no Líbano não for controlada”, disse Furriela.