Boletim de ocorrência diz que policial teve intenção de matar. Homem conduzia motocicleta roubada horas antes e foi reconhecido pelo dono como autor do roubo. Ouvidoria irá instaurar procedimento para acompanhar investigações dos órgãos competentes.
A Polícia Civil informou que o policial militar de 45 anos que atirou pelas costas e matou o suspeito de roubar uma moto em uma abordagem policial teve a intenção de matar. A polícia disse ainda que a versão do policial diverge das imagens das câmeras de segurança. A Ouvidoria irá instaurar um procedimento para acompanhar as investigações dos órgãos competentes.
A ação aconteceu na madrugada deste sábado (25) na Avenida Nordestina, na Zona Leste de São Paulo. Uma motocicleta Kawasaki que havia sido roubada foi vista próxima à 2ª CIA do 29º BPM. O policial tentou abordar o homem que conduzia a moto, e fez disparos. O suspeito de roubo chegou a ser socorrido para o Hospital Tide Setúbal, mas morreu. O policial foi preso em flagrante.
Segundo as informações do Boletim de Ocorrência, o policial disse que o suspeito tentou “jogar a motocicleta” em direção a ele e também fez um movimento que pudesse aparentar o uso de arma de fogo. O policial afirmou que primeiro fez disparos em direção a motocicleta, com a intenção de pará-la, e que, ao se aproximar do homem, “ouviu um estampido aparentando tratar-se de disparo de arma de fogo, motivo pelo qual, visando resguardar sua integridade física, efetuou um disparo contra o indivíduo, que caiu ao chão”.
O suspeito morto tem 23 anos e apresenta antecedentes criminais pelos crimes de furto e porte de arma de fogo. No entanto, neste sábado, após ser ferido, a polícia não encontrou nenhuma arma em seu poder. Segundo o BO, ele foi atingido por dois tiros, um na região peitoral direita e um na lateral da dorsal esquerda. A moto também tinha perfurações.
De acordo com o BO assinado pelo delegado Ivan Moyses Elian, do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), as imagens demonstraram “dinâmica diversa daquela inicialmente narrada”. O texto afirma que o homem não demonstrou perigo iminente à segurança do policial, e ainda assim, foi alvejado.
A Polícia Civil analisa ainda, de maneira preliminar, que neste caso não foi verificada a existência de excludente de ilicitude (norma que elimina a punição em casos específicos) e que houve “animus necandi” por parte do policial, ou seja, intenção de matar.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), o homem conduzia uma motocicleta que havia sido roubada horas antes e foi reconhecido pelo dono da moto como autor do roubo.
Em nota, a SSP afirma que o caso foi registrado no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), que prosseguirá com as investigações. “A Polícia Militar instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) e trabalha no esclarecimento dos fatos”, afirma ainda a nota.
Para o ouvidor da Polícia do estado de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, “a imagem do policial atirando pelas costas é chocante e inaceitável”.
“A Ouvidoria vai instaurar um procedimento para acompanhar as investigações dos órgãos competentes. Vamos requisitar que o Ministério Público também acompanhe o caso”, disse o ouvidor ao G1.
‘Lamentável exceção’
Para José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel reformado da PM de São Paulo, a ação policial que terminou em morte foi uma “lamentável exceção”.
“É um caso lamentável, isolado, é um crime. Tanto que os próprios colegas que estavam ali no local determinaram a prisão em flagrante”, disse em entrevista à GloboNews.
Segundo o coronel, de janeiro até 21 de julho, a PM prendeu 74 mil criminosos, quase 250 por dia e que “se houvesse um despreparo em massa da instituição, nós teríamos muito mais casos como esse”.