Nas ruas do Brás e na estação de trem da CPTM, passageiros e compradores não obedeceram o distanciamento social para evitar o contágio da Covid-19 e se aglomeraram nas calçadas, plataformas e dentro dos trens.
A volta para casa no primeiro dia de maior flexibilização da quarentena na capital paulista foi marcada por aglomerações nas ruas da cidade e na estação Brás da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) nesta segunda-feira (6). Os passageiros estavam muito próximos uns dos outros – tanto nas plataformas quanto dentro dos trens.
Segundo o Centro de Contingência da Covid-19 em São Paulo, o espaço seguro entre as pessoas para evitar a disseminação do vírus deve ser de, no mínimo, um metro e meio de distância.
A cena se repetiu pelas ruas. Assim que as lojas, restaurantes e salões de beleza fecharam dentro do horário programado, muitas calçadas continuaram lotadas em regiões de comércio popular, como no próprio Brás, na região central da cidade. Nem nas faixas de pedestre houve respeito ao distanciamento social.
Apesar dos cenas registradas no fim da tarde, a retomada dos setores de bares, restaurantes e salões de beleza na capital paulista neste primeiro dia, foi marcada por adaptação do comércio à nova realidade sanitária contra o coronavírus. Com medição de temperatura antes de entrar, faixas determinando distanciamento físico entre os clientes, distribuição de álcool gel e exigência de máscaras, os empresários procuraram respeitar as normas impostas pela prefeitura nessa fase amarela da quarentena na capital.
Após 104 dias fechados, bares, restaurantes e salões de beleza do Centro de São Paulo visitados pelo G1 reabriram suas portas às 11h, seguindo os protocolos determinados para o funcionamento ao público.
A capital paulista foi classificada na fase amarela do plano estadual de flexibilização gradual da economia, que autoriza a reabertura destes setores com restrições. Atividades que já estavam liberadas na fase laranja como shoppings também tiveram autorização para ampliar o horário de funcionamento, passando de 4 para 6 horas diárias.
Nesta manhã, o G1 visitou alguns bares e lanchonetes e observou respeito às regras. Na tradicional lanchonete Estadão, uma funcionária media a temperatura na porta e faixas isolavam os assentos para evitar a proximidade entre os clientes. Normalmente, o estabelecimento funcionava 24 horas por dia, 7 dias por semana, exceto no Natal e no dia 1º de janeiro. Com a pandemia de coronavírus, o local chegou a ficar totalmente fechado no início da quarentena, e depois passou a funcionar como serviço de delivery.
De acordo com o gerente Cícero Tiezzi, 58 anos, o faturamento caiu de 75% a 80%. Nenhum funcionário foi demitido.
“O movimento começou bem devagar e depois foi melhorando. As pessoas foram retornando aos poucos. Acho difícil voltar ao que era [de movimento], vamos ter de nos adaptar ao que vier. Os clientes mandavam mensagem pedindo para reabrir. Estamos nos readequando, mas vamos manter delivery. Estamos trabalhando 24 horas, mas o delivery até 1h da manhã”, afirma Tiezzi.
Tiezi acredita que a queda no faturamento só não foi maior porque parte de sua clientela trabalha com serviço essencial. “Apesar das baladas estarem fechadas e muita gente vir para cá depois das festas, temos muitos clientes que trabalham no Metrô, delegacia, faz plantão na área da saúde”, afirma.
A poucos quarteirões, na Praça Roosevelt, a reabertura dos bares ainda é tímida nesta segunda-feira. José Santos, 57 anos, proprietário do bar Amigos do Zé há 7 anos, viu seu faturamento cair 95% com as portas fechadas nos últimos meses.
O bar está servindo refeições em esquema de delivery, mas reabriu suas portas com menos mesas e cadeiras disponíveis para manter o distanciamento social, há distribuição de álcool gel e medição da temperatura na porta e exigência de uso da máscara.
“Todo mundo quer que volte, fala que está com saudade. Eu achei que fosse ter de fechar as portas, foi um dia de cada vez para sobreviver. O delivery foi só para os clientes não se esquecerem da gente, mas não paga as contas. Tem aluguel, funcionário, água e luz para pagar”, afirma.
José conta que tentou pegar empréstimo do BNDES, mas não conseguiu. “Cada dia pedem uma coisa a mais e não tem nenhum resultado, a gente não consegue pegar o dinheiro”, afirma.
Para ele, a Praça Roosevelt não vai repetir a aglomeração vista no Leblon, bairro do Rio de Janeiro que teve as ruas lotadas de clientes na quinta-feira (2).
“Não vai fazer aglomeração porque vai fechar às 17h, se fosse ficar até tarde até teria essa possibilidade. Mas esperamos que dê tudo certo, a gente sustenta 5 famílias aqui”, diz ele, que não demitiu nenhum funcionário.
Regras para bares e restaurantes
O decreto publicado pela Prefeitura de São Paulo estabelece que os bares e restaurantes podem funcionar por 6 horas diárias. Para a prefeitura, esses estabelecimentos poderiam funcionar até as 22h, porém o decreto do estado, que prevalece sobre o municipal, estabelece o limite de horário até 17h.
As praças de alimentação de shoppings são exceção, e a prefeitura conseguiu vincular seu horário ao dos shoppings, que estão autorizados a funcionar das 6h às 12h ou das 16h às 22h.
Veja abaixo as principais determinações do protocolo:
- Ocupação máxima de 40% da capacidade do estabelecimento
- Distância de 2 metros entre as mesas e de 1,5 metro entre as pessoas
- Máximo de 6 pessoas por mesa
- Proibição de consumo nas calçadas
- Atendimento deve ser feito apenas para clientes sentados
- Uso obrigatório de máscaras por clientes e funcionários no estabelecimento. (Apenas quando estiver sentado em sua mesa, o cliente poderá deixar de utilizar a máscara)
- Proibição de aglomerações
- Disponibilizar álcool gel para higienização das mãos
- Barreiras de acrílico devem ser instaladas nos caixas e balcões de alimentos
- Temperos e condimentos devem ser fornecidos em sachês
- Cardápios deverão ser disponibilizados digitalmente ou em quadros na parede
- Funcionários devem usar máscaras, viseiras de acrílico e luvas
- Pratos, copos e talheres devem ser higienizados
- Guardanapos de tecido estão proibidos
- Ambiente deve ser submetido a um intenso processo de limpeza
- Funcionários que apresentarem sintomas de síndrome gripal devem ser testados
- Apoio a colaboradores com dependentes no período em que creches e escolas estiverem fechadas.
Regras para salões de beleza
Elídio, proprietário de Elídio Cabeleireiros, na região central, listou as exigências de cabeça e disse que não foi difícil se adequar: ele adotou a medição de temperatura, tapete para higieniza pés dos clientes, uso obrigatório de máscara e disponibilizou álcool gel aos clientes no balcão do caixa.
“O mais difícil é ter de mandar o cliente embora para casa se a temperatura estiver alta. Tirei a máquina de café porque não pode mais oferecer nem água e nem café”, afirmou.
No protocolo publicado neste sábado (4) pela Prefeitura de São Paulo também constam as regras para o funcionamento dos salões de beleza. Veja as principais:
- Ocupação máxima de 40% da capacidade
- Uso de máscara obrigatório para funcionários e clientes
- Distanciamento de 1,5 metro entre as pessoas
- Atendimentos devem ser agendados, evitando fila de espera
- Atendimento deve ser individual e com capacidade reduzida
- Margem de tempo entre atendimentos para que ambiente e equipamentos sejam higienizados
- Cliente nunca deve ser atendido por mais de um profissional simultaneamente
- Destinar horário exclusivo para clientes acima de 60 anos ou com comorbidades
- Cliente deve passar por triagem para avaliar se apresenta sintomas
- Medir a temperatura de funcionários
- Atendimentos a domicílio são permitidos, desde que os protocolos de higiene sejam seguidos.
Na Rua 25 de Março, a maioria das lojas toma as precauções necessárias para a reabertura. Durante a manhã, muitas delas ainda mantinham o atendimento só da porta, enquanto outras usavam placas para avisar que só permitem clientes com máscara no interior, controlando o acesso.
Como fica o comércio
A capital paulista começou o Plano São Paulo diretamente na fase 2- laranja, que significa a possibilidade de abertura econômica de alguns setores, com restrições.
Com isso, o comércio de rua e os shoppings foram reabertos no dia 10 de junho, com horário de funcionamento de 4 horas diárias. Agora, na fase 3- amarela, as lojas podem funcionar por 6 horas diárias. Na Rua 25 de Março, o movimento era grande nas ruas nesta segunda-feira (6).
O mesmo vale para os escritórios, concessionárias e imobiliárias, que também foram liberados na etapa anterior do plano de reabertura econômica.
Academias e setor cultural: falta regulamentar
Na sexta-feira (3), o governo paulista também autorizou a reabertura de teatros, cinemas, salas de espetáculo, realização de eventos culturais e academias de ginástica para regiões que estejam na fase amarela do plano de flexibilização gradual da quarentena no estado.
No entanto, a reabertura do setor cultural só poderá ocorrer se a região apresentar estabilidade de 4 semanas na fase amarela. Se a capital paulista se mantiver nesta fase, a previsão é a de que reabertura ocorra no dia 27 de julho.
Já as academias têm autorização estadual para reabrir a partir de segunda-feira, mas a volta do funcionamento depende de assinatura de protocolos pelas prefeituras e ainda não há previsão de data para que isso ocorra na capital.
Plano São Paulo
A quarentena que visa conter o avanço do novo coronavírus começou no dia 24 de março, quando o governo do estado determinou que continuassem abertos somente setores considerados essenciais: saúde, transporte, segurança, limpeza pública, indústrias, bancos e telemarketing.
Em 1º de junho, o governo iniciou o chamado Plano São Paulo para a reabertura gradual das atividades econômicas em fases. O estado foi dividido de acordo com as 17 Divisões Regionais de Saúde (DRS) e a Grande São Paulo foi subdividida em outras 6 microrregiões. A flexibilização da quarentena é feita de modo diferente de acordo com a classificação das regiões por cores.
Os cinco critérios de saúde que baseiam a classificação são: ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs); total de leitos por 100 mil habitantes; variação de novas internações, em comparação com a semana anterior; variação de novos casos confirmados, em comparação com a semana anterior; variação de novos óbitos confirmados, em comparação com a semana anterior.
Os critérios definem em qual das cinco fases de permissão de reabertura a região se encontra:
- Fase 1 – Vermelha: Alerta máximo
- Fase 2 – Laranja: Controle
- Fase 3 – Amarela: Flexibilização
- Fase 4 – Verde: Abertura parcial
- Fase 5 – Azul: Normal controlado
Na sexta-feira (3) a cidade de São Paulo e 14 municípios da Grande São Paulo se mantiveram na fase amarela. Já a região de Campinas foi rebaixada para a fase vermelha, mais restrita, devido à piora nos indicadores de saúde.