Vídeos mostram jovem com a cabeça sangrando em uma sala e levando ‘gravata’ de segurança na Estação Francisco Morato. Ele diz ter sido agredido na cabeça com cassetetes. CPTM alegou que grupo jogou pedras.
“Eu apanhei de cinco caras algemado”, diz em um vídeo o vendedor ambulante Cesar Augusto Souza de Oliveira, de 19 anos, que aparece com a cabeça sangrando (veja acima). Ele alega que foi agredido com golpes de cassetete e acabou torturado por seguranças na estação de trem de Francisco Morato, na Grande São Paulo, na tarde da última quinta-feira (2).
Em outras imagens, o vendedor aparece sendo detido e imobilizado com um golpe no pescoço conhecido como ‘gravata’ pelos agentes de segurança da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) da estação Francisco Morato da Linha 7-Rubi. As gravações circulam nas redes sociais. A empresa afirma que os seguranças foram acionados porque um grupo jogava pedras na plataforma (leia mais abaixo).
“Está tudo doendo. Olha minha cara como está. Seus lixo [sic]. Seus lixo [sic]”, diz Cesar no vídeo.
Ele está algemado, com as mãos para trás, sentado numa cadeira, e com sangue na testa, escorrendo pelo rosto. Próximo a ele estão seguranças usando coletes da CPTM.
O vendedor afirmou ao G1 que a gravação foi feita em uma sala da estação por um amigo dele, outro vendedor, de 20 anos, que também acusa os seguranças de agressão.
Lesão corporal
Cesar, o amigo e os seguranças da CPTM foram à delegacia da cidade, onde cada lado acusou o outro de ter começado a briga. Foi registrado boletim de ocorrência para apurar o crime de lesão corporal, no qual vendedores e seguranças aparecem ao mesmo tempo como agressores e vítimas.
Procurada para comentar o assunto, a CPTM afirmou em nota que “quatro pessoas, que estavam sentadas em um muro ao lado da Estação Francisco Morato, começaram a jogar latas, garrafas e pedras na direção da plataforma 2, colocando em risco os passageiros que aguardavam o trem”.
Ainda segundo o comunicado da CPTM, os “agentes de segurança foram acionados e, ao chegarem ao local, foram agredidos por dois homens. Com o apoio da PM, dois indivíduos foram conduzidos ao DP do município, onde foi lavrado o B.O. de lesão corporal e depois foram liberados”.
As informações atribuídas aos seguranças estão no boletim de ocorrência, que também registrou as versões de Cesar e do amigo, que são diferentes:
“Alegam que estavam no barranco com outras pessoas, porém, não lançaram as pedras contra a cabine e não sabem dizer quem as lançou”, informa trecho do documento atribuído aos dois vendedores, que acusam os seguranças de agressão. “Foram agredidos injustamente e não agrediram ninguém”.
Tortura e cárcere
Procurado pela reportagem, Cesar falou que foi torturado pelos seguranças da CPTM. “Só pelo fato de eu estar algemado e eles estarem em muitos, houve tortura”, disse o vendedor.
“Tenho marcas de que eles me bateram com cassetete e mascas das algemas. Machucaram todo meu braço. Meu rosto ficou com muito sangue caindo no meu olho. Eu estava tonto. Levei sete pontos na cabeça”, contou o ambulante.
Ele também reclamou das algemas colocadas nele. “Não sou bandido.”
Cesar pretende entrar com um processo na Justiça contra os seguranças e a CPTM para pedir indenização por danos morais. Segundo ele, os agentes também o caluniaram e difamaram.
“Sou trabalhador, mas me chamaram de vagabundo”, falou o vendedor, que não estava trabalhando no momento da confusão. Ele comercializa máscaras para se proteger da Covid-19.
“Já estamos com corpo jurídico analisando uma ação e o caso, e também orientando o mesmo”, disse Darlan Mendes, ativista de direitos humanos, que acompanha o caso.
“Ele foi mantido em cárcere privado. Tudo isso é bem claro. Ele em uma cadeira, o chão cheio de sangue, seu rosto machucado e cheio de sangue. E mostra ele algemado. Foi espancado e torturado”, diz o ativista.
Darlan reforçou a importância de o amigo do vendedor ter gravado um vídeo com seu telefone. “A arma do cidadão em qualquer agressão é o celular.”