Foram 198 sessões por videoconferência ou telefone só em maio; comparação do Centro de Referência e Apoio à Vítima (Cravi) é em relação a maio de 2019 e 2020. Veja como receber atendimento.
O número de atendimentos a vítimas de violência em São Paulo bateu recorde e cresceu 70% em maio de 2020 em relação ao mesmo mês do ano passado, de acordo com o Centro de Referência e Apoio à Vítima (Cravi).
Foram 198 sessões por videoconferência ou telefone só em maio, 71% a mais que a média mensal dos meses anteriores.
Para Bruno Fedri, coordenador geral do Cravi, as vítimas estão mais expostas à violência com a pandemia de coronavírus.
“Na verdade as vítimas estão precisando de maior apoio e e mais expostas à situação de violência, especialmente aquelas mulheres cuja casa não funciona como um espaço onde ela consegue se sentir à vontade”, afirma.
De acordo com uma mulher que prefere não se identificar, ela foi vítima de agressões do marido nos últimos dois anos.
“Eram xingamentos, constrangimentos, humilhações. Me desmereceria como mãe, como mulher, não tinha paciência com o nosso filho, me impedia de fazer coisas simples do dia a dia, como ir ao banco. Quando íamos fazer compras, era um show de impaciência, de brigas, porque eu precisava fazer as coisas e sequer queria segurar o nosso filho… Então isso tudo foi acumulando, o estresse… Discussões. Até chegar à agressão.”
O isolamento social fez a situação piorar.
“Justamente… Nesses últimos tempos em especial, com a quarentena foi ficando insustentável, insuportável. Eu quase que rezava, pedindo para ele sair para rua, nem que seja para ir falar com o vizinho”, afirma a vítima.
As estatísticas de morte e agressões de mulheres indicam que o coronavírus não é a causa dessa doença social. E a violência contra a mulher também não pode ser explicada apenas pela necessidade de distanciamento. O que acontece, segundo a psicóloga Priscila Santos Martins Dauria, é que nesse momento as vítimas estão ainda mais vulneráveis, distantes da família e amigos, reféns do agressor.
“Ninguém se transformou vítima e ninguém se transformou autor de violência por conta da pandemia. O que a pandemia faz é colocar uma lupa nas tensões domésticas, em tensões que já existiam antes da pandemia”, afirma.
Como pedir ajuda
O cadastro para receber atendimento pode ser feito por telefone ou e-mail. A equipe do Cravi dá um retorno em no máximo 24 horas e avalia qual tipo de apoio a vítima precisa, se é um espaço de escuta, que pode ser online ou por telefone, ou se há uma situação de risco.
Nesse caso, os técnicos encaminham o caso para algum órgão que possa proteger essa pessoa. Quem vê ou sabe da violência também pode agir. Ouvir o que as vítimas dizem pode ser um jeito de ajudar.
“Ficar perto, saber que sim, em briga de marido e mulher se mete a colher… E que seja uma mensagem de whatsapp. Às vezes a gente não pode ter esse contato físico que a gente tinha antes, esse contato que a gente gostaria, mas a gente pode estar presente por uma mensagem, mensagem de ajuda”, afirma Priscila.
O Disque Denúncia funciona 24 horas por dia. Basta ligar para o 180. Não precisa ser a vítima a denunciar. Quem já foi vítima, ensina como escapar.
“Tome coragem. O primeiro passo é o mais difícil, mas depois que você consegue dar esse passo, tomar essa decisão, dar um fim, pode ter certeza que portas se abrem.”
O Cravi é ligado à Secretaria da Justiça e Cidadania de São Paulo e atende também vítimas e parentes de vítimas de outros crimes contra a vida. Para receber atendimento do Cravi, o número é o (11) 3291 2624. O e-mail é [email protected]