O PM Adriano Fernandes de Campos aparece em câmera de segurança que gravou Guilherme Guedes, de 15 anos, pela última vez na madrugada de domingo (14). Ele foi interrogado na sede do DHPP, mas ficou em silêncio.
A Polícia de São Paulo prendeu nesta quarta-feira (17) o sargento da PM Adriano Fernandes de Campos, suspeito da morte do adolescente Guilherme Silva Guedes, de 15 anos, que desapareceu na madrugada do último domingo (14) na Zona Sul de São Paulo.
O jovem foi encontrado morto horas depois, em Diadema, no ABC Paulista, com dois tiros na cabeça e marcas de agressão pelo corpo.
A prisão do sargento foi autorizada pela Justiça paulista durante a tarde e ele estava detido administrativamente na Corregedoria da Polícia Militar, no bairro da Luz, Centro de São Paulo.
De lá, Adriano Fernandes de Campos foi encaminhado para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ele foi interrogado pelos investigadores do caso, mas preferiu ficar em silêncio, sem responder nenhuma pergunta, seguindo orientações dos advogados dele.
Da sede do DHPP, no Centro, o sargento deve ser encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) para fazer exame de corpo de delito e, depois, deve seguir para o Presídio Romão Gomes.
Apesar do silêncio do sargento, os investigadores do caso querem saber quem é o segundo homem que aparece em imagens feitas pela câmera de segurança de uma rua próxima da viela onde o jovem de 15 anos foi visto pela última vez.
“A gente acredita que o companheiro comparsa no caso do crime seria outro policial militar até pelo jeito de portar, até pelo jeito de andar. Nós ouvimos uma testemunha que disse que haviam dois homens armados”, afirmou o delegado Fábio Pinheiro, diretor do DHPP.
Identificação do sargento
A identificação do sargento foi divulgada mais cedo pela Polícia Civil, que informou que já tinha suspeitas de que dois policias militares à paisana e de folga, acusados de matar a tiros o jovem Guilherme Silva Guedes.
O sargento, segundo o DHPP, trabalhava no Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) da Polícia Militar em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
“Infelizmente é um policial militar, um sargento do Baep de São Bernardo do Campo”, disse Fábio Pinheiro Lopes, diretor do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), antes da prisão de Adriano.
A identificação foi feita a partir da análise de câmeras de segurança que gravaram o adolescente pela última vez numa rua próxima à casa onde morava com a avó e tia maternas, em Americanópolis, na Zona Sul da capital.
Segundo o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), Guilherme some das imagens, e na sequência aparecem dois homens.
Um deles, de acordo com a investigação, é o sargento, que aparenta segurar uma arma de fogo. A polícia ainda não identificou o outro homem que, segundo a apuração, também pode ser outro policial militar.
Na sequência passa um carro pela rua, que também foi identificado pelos investigadores do caso.
A principal linha de apuração do DHPP é a de que os dois PMs estavam de folga e fazendo ‘bico’ de segurança numa empresa privada quando suspeitaram que Guilherme pudesse estar envolvido num furto e o mataram.
“Ele [sargento] faz a segurança de uma empresa que tem nas proximidades da casa do garoto e essa empresa estava sendo vítima de constantes furtos. Aí, acho que ele quis dar uma lição na meninada da região e acabou pegando o Guilherme. E junto com o segundo [policial que fazia segurança] que a gente ainda não identificou e acabou cometendo esse crime”, falou o delegado Pinheiro.
Mas segundo os investigadores, o adolescente não tinha nenhuma passagem criminal anterior e dificilmente estaria envolvido em algum delito.
“Parece que teve um furto e os meninos correram em direção aquela viela. Deve ter sido acionado pelo porteiro. Foi procurar e achou quem. Guilherme lá na porta. Pegou o Guilherme na porta da casa dele. Ele morava ali onde foi arrebatado. Não tinha antecedentes. Nunca teve passagens pela polícia”, disse Pinheiro.
E, de acordo com a investigação, mesmo que qualquer outra pessoa tivesse furtado algo na empresa, a atitude correta dos PMs seria a de pedir apoio à polícia, que levaria o suspeito a uma delegacia.
“Independente de ter sido autor ou não do furto, isso não é conduta que ninguém faz”, afirmou o delegado.
Crime
Guilherme foi encontrado morto com dois tiros em outro lugar da Zona Sul de São Paulo. Junto ao corpo dele estava uma tarjeta com a patente e o ‘nome de guerra’ de um policial militar.
Segundo a investigação, a motivação do crime, que não é justificada, está relacionada à desconfiança do sargento em achar que o adolescente pudesse estar envolvido no furto de objetos da empresa para qual ele fazia segurança.
De acordo com a polícia, o sargento é dono de uma empresa de segurança que faz a vigilância de um galpão, onde fica um estabelecimento de manutenção.
Funcionários do estabelecimento disseram à reportagem que o local foi alvo de ladrões, que invadiram o espaço e furtaram carregadores de celulares que estavam dentro de caminhões.
Entre a noite de sábado (13) e o domingo, mais uma vez entraram no depósito. Dessa vez, o segurança percebeu.
Os funcionários contaram que ele ligou para o dono da empresa de segurança, que foi até a empresa. O proprietário seria o sargento preso e o vigilante outro PM.
Os dois policiais militares não estavam trabalhando na corporação no horário que prestavam segurança para a empresa.
Moradores contaram à reportagem que os dois seguranças da empresa foram atrás de quem invadiu a empresa e encontraram Guilherme numa viela próxima, perto do galpão e da casa onde ele morava com a avó e tia.
Por volta das 2h de domingo, câmera de segurança do local gravou o adolescente conversando em frente da viela. Depois ele não aparece mais porque teria entrado na viela.
Cinco minutos depois, aparecem os dois PMs à paisana. Um deles olha para fora e se abaixa, como se estivesse pegando algo do chão.
Depois, outro homem sai e olha a rua. Ele está com as mãos para trás e parece carregar uma arma.
No dia seguinte, a família de Guilherme encontrou o corpo dele no Instituto Médico Legal (IML) Sul. Ele tinha sido abandonado perto de um terreno baldio no bairro da Pedreira, também na Zona Sul da cidade.
Guilherme levou dois tiros que provocaram quatro lesões: duas na mão direita, uma no rosto (indicando que ele tentou se proteger) e uma na parte de trás da cabeça. Ele também tinha sinais de espancamento.
O adolescente era de Tupã, no interior do estado, e estava morando atualmente na capital com a avó materna desde o início da pandemia.
Protestos
Desde que Guilherme foi encontrado morto, uma série de protestos tem se repetido na região. Na segunda-feira (15), sete ônibus foram queimados e depredados. Na terça-feira (16), houve uma passeata pelas ruas do bairro.
Depois que a manifestação pacífica se dispersou, grupos colocaram fogo em lixo pelas ruas. Há relatos de ao menos mais três ônibus depredados e um posto de combustíveis saqueado.
A polícia também investiga se vídeos que estão circulando nas redes sociais e mostram PMs fardados agredindo pessoas em abordagens ocorreram na mesma região que Guilherme foi morto na Zona Sul da capital.
Ao menos 14 policiais militares já foram identificados e afastados por agressões às pessoas. Sendo que oito deles foram presos.